Mister Señor Love Daddy (Samuel L. Jackson) faz a vez do narrador e, através da locução do seu programa de rádio, introduz-nos na realidade de um bairro do gueto norte-americano. “Do the right thing” (1989) conta-nos assim uma história de preconceitos e conflitos inter-raciais, no estilo muito próprio de Spike Lee.
É o dia mais quente do ano e
sentem-se as tensões a crescer. Italianos, coreanos, hispânicos e negros não
escondem o seu descontentamento pelo facto de fazerem parte de uma mesma
comunidade. Porém, para Mookie (Spike Lee) é apenas mais um dia de trabalho na
pizaria de Sal (Danny Aiello), onde “queijo extra são dois dólares”
independentemente de quem for o cliente.
“Fight the power” dos Public Enemy
faz de banda sonora da explosão dos conflitos criados por estas tensões e
impulsionados por Radio Raheem (Bill Nunn) e Buggin’ Out (Giancarlo Esposito).
Violência, vandalismo e assassínio são alguns dos elementos que pautam o clímax
do filme, protagonizado pelas diferentes etnias, e que, ainda que não seja de
todo inesperado, deixa o espetador em rebuliço.
Nomeado para o Óscar de Melhor
Argumento Original, “Do the right thing” destaca-se pela forma como nos
envolve, dando-nos a conhecer o perfil de cada uma das personagens quase sem
nos apercebermos. A princípio, não conta propriamente uma história,
limitando-se a embrenhar o espetador no quotidiano do bairro que retrata.
Contudo, um dos pontos mais
marcantes do filme não deixa de ser o impacto visual. Close-ups, planos
inclinados e imagens desenquadradas, ainda que provoquem alguma estranheza
primariamente, conferem um cariz mais cru e verdadeiro à realidade da
longa-metragem.
De referir também as brilhantes
interpretações de todo o cast, com destaque para Spike Lee, Danny Aiello e
Ossie Davies. Este último faz o papel de Da Mayor, personagem que justifica o
título do filme quando, à semelhança de Malcom X, nos diz para “fazer a coisa
certa”.
Spike Lee consegue assim fugir dos
estereótipos relativos a certos grupos minoritários que se encontravam muito no
cinema da altura. Apresenta-nos antes uma versão mais complexa dos guetos
norte-americanos, mostrando-nos as tensões que existem dentro dos mesmos. O
realizador acaba assim por contribuir para uma maior consciencialização dos
problemas inerentes a esta realidade, não deixando nunca de referir grande
líderes tais como Martin Luther King e o já mencionado Malcom X.
"My people, my people, what can I say, say what I can. I saw it but didn't believe it, I didn't believe what I saw. Are we gonna live together? Together are we gonna live?"
Realização.: Spike Lee / Interpretação.: Spike Lee, Danny Aiello, Ossie Davies, Bill Nunn, Giancarlo Esposito, Samuel L. Jackson, Martin Lawrence.
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