terça-feira, 28 de outubro de 2014

Cinema - Do the Right Thing (1989) - 8/10



Mister Señor Love Daddy (Samuel L. Jackson) faz a vez do narrador e, através da locução do seu programa de rádio, introduz-nos na realidade de um bairro do gueto norte-americano. “Do the right thing” (1989) conta-nos assim uma história de preconceitos e conflitos inter-raciais, no estilo muito próprio de Spike Lee.

É o dia mais quente do ano e sentem-se as tensões a crescer. Italianos, coreanos, hispânicos e negros não escondem o seu descontentamento pelo facto de fazerem parte de uma mesma comunidade. Porém, para Mookie (Spike Lee) é apenas mais um dia de trabalho na pizaria de Sal (Danny Aiello), onde “queijo extra são dois dólares” independentemente de quem for o cliente.

“Fight the power” dos Public Enemy faz de banda sonora da explosão dos conflitos criados por estas tensões e impulsionados por Radio Raheem (Bill Nunn) e Buggin’ Out (Giancarlo Esposito). Violência, vandalismo e assassínio são alguns dos elementos que pautam o clímax do filme, protagonizado pelas diferentes etnias, e que, ainda que não seja de todo inesperado, deixa o espetador em rebuliço.

Nomeado para o Óscar de Melhor Argumento Original, “Do the right thing” destaca-se pela forma como nos envolve, dando-nos a conhecer o perfil de cada uma das personagens quase sem nos apercebermos. A princípio, não conta propriamente uma história, limitando-se a embrenhar o espetador no quotidiano do bairro que retrata.

Contudo, um dos pontos mais marcantes do filme não deixa de ser o impacto visual. Close-ups, planos inclinados e imagens desenquadradas, ainda que provoquem alguma estranheza primariamente, conferem um cariz mais cru e verdadeiro à realidade da longa-metragem.

De referir também as brilhantes interpretações de todo o cast, com destaque para Spike Lee, Danny Aiello e Ossie Davies. Este último faz o papel de Da Mayor, personagem que justifica o título do filme quando, à semelhança de Malcom X, nos diz para “fazer a coisa certa”.

Spike Lee consegue assim fugir dos estereótipos relativos a certos grupos minoritários que se encontravam muito no cinema da altura. Apresenta-nos antes uma versão mais complexa dos guetos norte-americanos, mostrando-nos as tensões que existem dentro dos mesmos. O realizador acaba assim por contribuir para uma maior consciencialização dos problemas inerentes a esta realidade, não deixando nunca de referir grande líderes tais como Martin Luther King e o já mencionado Malcom X.


"My people, my people, what can I say, say what I can. I saw it but didn't believe it, I didn't believe what I saw. Are we gonna live together? Together are we gonna live?"


Realização.: Spike Lee / Interpretação.: Spike Lee, Danny Aiello, Ossie Davies, Bill Nunn, Giancarlo Esposito, Samuel L. Jackson, Martin Lawrence.

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