Berlin seguia-se a Transformer,
aposta glam-rock de Lou Reed em 1972 que o catapultou para a fama. Contava a
história de Jim e Caroline, viciados em anfetaminas, e a forma como os dois se
conheceram e criaram família na cidade alemã. Mas contava-a como só Lou era
capaz: de forma assustadoramente negra, repleta de nihilismo e de referências
perturbadoras a drogas e a violência doméstica. Acompanhado pela grandiosa
produção irrepreensível de Bob Ezrin, Lou criava, assim, o seu melhor e mais
coeso álbum a solo.
Este trabalho prima pela forma como
mostra a evolução e o amadurecimento das suas personagens. Na primeira
sequência ouvimos como se conheceram (“In Berlin, by the Wall”, na faixa que
abre o álbum) e é-nos contada a frustrante vida da dependência (“How do you
think it feels/ when you’ve been up for five days (…) because you’re afraid of sleeping”, num dos
temas mais electrizantes do disco, How Do You Think It Feels). Na
segunda parte, contudo, quando o amor do casal se vê sobreposto pela
violência (“Caroline says/ as she gets up from the floor/ you can hit me all
you want to/ but I don't love you anymore”, em Caroline Says II), Reed leva-nos ao lado mais negro da vivência deste "amor", nas últimas três faixas, verdadeiramente devastadoras. A assustadora The
Kids narra o dia em que os filhos lhes são tirados, antes de Caroline se
suicidar (“This the place where she cut her wrists/ that odd and fateful
night”, na arrepiante The Bed) e de ouvirmos Jim, impávido, a contar-nos o que
aprendeu com tal tragédia: acaba em grande com Sad Song, onde um duo de
guitarras nos leva ao climax maravilhosamente orquestrado em que ouvimos a
personagem masculina, incapaz de se exprimir, desabafar friamente as palavras
do título sobre um coro imponente.
Naquele que poderá ser o disco mais deprimente de sempre, culpado de deitar por terra a oportunidade que Lou tinha de se sagrar uma estrela mundial, o próprio investia a sua alma como não voltaria a fazer em mais nenhum registo da sua longa carreira. Questionado mais tarde, diria que editá-lo era a pior ideia que já tinha tido. Mas Lou estava errado.
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